quarta-feira, 23 de junho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

Jorge De Lima

Jorge Monteiro de Lima nasceu no ano de 1895, em União dos Palmares localizado no estado de Alagoas e já chegou a ser o poeta modernista eleito “príncipe dos poetas” em concurso.
Após seu primeiro livro, o autor aproxima-se mais da estética de sua época, o Modernismo. Em contato com outros autores regionalistas da época, inicia a produção de poemas em versos brancos e livres em contraposição à rigorosidade estética do Parnasianismo.
Suas obras estão voltadas à região do nordeste que passa a ser tema das obras do escritor.Pela posição geográfica deste local, e pelos problemas advindos deste fato, refletidos na paisagem e na figura das personagens.
Logo após essa fase regionalista, Jorge de Lima volta-se à poesia cristã e, juntamente com Murilo Mendes, escreve um livro cujo lema era a restauração da poesia em Cristo, chamado Tempo e eternidade. Além deste, há outros com a mesma temática: Túnica inconsútil e Anunciação e encontro de Mira-Celi.


Pelo silêncio



Pelo silêncio que a envolveu, por essa
aparente distância inatingida,
pela disposição de seus cabelos
arremessados sobre a noite escura:


pela imobilidade que começa
a afastá-la talvez da humana vida
provocando-nos o hábito de vê-la
entre estrelas do espaço e da loucura;


pelos pequenos astros e satélites
formando nos cabelos um diadema
a iluminar o seu formoso manto,


vós que julgais extinta Mira-Celi
observai neste mapa o vivo poema
que é a vida oculta dessa eterna infanta.

Murilo Mendes





Murilo Mendes


A partir da obra Tempo e Eternidade de 1935, escrito em colaboração com Jorge de Lima,a religiosidade, passa a ser um novo componente da poesia de Murilo Mendes. Apesar disso, a preocupação com as causas sociais não é abandonada. O próprio Murilo afirmou que os problemas sociais não se opõem à religiosidade:

A Tentação

Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo:
"Já que és o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade desta cruz".

As influências da primeira fase modernista não duraram muito. Nessas obras Murilo modificou muito o seu estilo. Prova disso é que em uma compilação que preparou para sua obra, ele não incluiu o livro “História do Brasil”, pois, segundo o próprio poeta, essa obra não estava em harmonia com as demais.

Gilda


Não ponha o nome de Gilda
na sua filha, coitada,
Se tem filha pra nascer
Ou filha pra batisar.
Minha mãe se chama Gilda,
Não se casou com meu pai.
Sempre lhe sobra desgraça,
Não tem tempo de escolher.
Também eu me chamo Gilda,
E, pra dizer a verdade
Sou pouco mais infeliz.
Sou menos do que mulher,
Sou uma mulher qualquer.
Ando à-toa pelo mundo.
Sem força pra me matar.
Minha filha é também Gilda,
Pro costume não perder
É casada com o espelho
E amigada com o José.
Qualquer dia Gilda foge
Ou se mata em Paquetá
Com José ou sem José.
Já comprei lenço de renda
Pra chorar com mais apuro
E aos jornais telefonei.
Se Gilda enfim não morrer,
Se Gilda tiver uma filha
Não põe o nome de Gilda,
Na menina, que não deixo.
Quem ganha o nome de Gilda
Vira Gilda sem querer.
Não ponha o nome de Gilda
No corpo de uma mulher.