terça-feira, 15 de junho de 2010

Murilo Mendes





Murilo Mendes


A partir da obra Tempo e Eternidade de 1935, escrito em colaboração com Jorge de Lima,a religiosidade, passa a ser um novo componente da poesia de Murilo Mendes. Apesar disso, a preocupação com as causas sociais não é abandonada. O próprio Murilo afirmou que os problemas sociais não se opõem à religiosidade:

A Tentação

Diante do crucifixo
Eu paro pálido tremendo:
"Já que és o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade desta cruz".

As influências da primeira fase modernista não duraram muito. Nessas obras Murilo modificou muito o seu estilo. Prova disso é que em uma compilação que preparou para sua obra, ele não incluiu o livro “História do Brasil”, pois, segundo o próprio poeta, essa obra não estava em harmonia com as demais.

Gilda


Não ponha o nome de Gilda
na sua filha, coitada,
Se tem filha pra nascer
Ou filha pra batisar.
Minha mãe se chama Gilda,
Não se casou com meu pai.
Sempre lhe sobra desgraça,
Não tem tempo de escolher.
Também eu me chamo Gilda,
E, pra dizer a verdade
Sou pouco mais infeliz.
Sou menos do que mulher,
Sou uma mulher qualquer.
Ando à-toa pelo mundo.
Sem força pra me matar.
Minha filha é também Gilda,
Pro costume não perder
É casada com o espelho
E amigada com o José.
Qualquer dia Gilda foge
Ou se mata em Paquetá
Com José ou sem José.
Já comprei lenço de renda
Pra chorar com mais apuro
E aos jornais telefonei.
Se Gilda enfim não morrer,
Se Gilda tiver uma filha
Não põe o nome de Gilda,
Na menina, que não deixo.
Quem ganha o nome de Gilda
Vira Gilda sem querer.
Não ponha o nome de Gilda
No corpo de uma mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário